Quem foi Fernão de Loronha é uma questão histórica que remete a um dos personagens mais influentes da colonização portuguesa no Brasil. Ele foi um comerciante e empresário de grande prestígio no início do século XVI. Seu nome está diretamente associado ao arquipélago de Fernando de Noronha, mas seu legado vai muito além: Loronha foi responsável por contratos de exploração do pau-brasil, contribuiu para o desenvolvimento do comércio marítimo luso-brasileiro e esteve entre os primeiros donatários do território que viria a se tornar o Brasil.
Origens e Ascensão
Fernão de Loronha nasceu por volta de 1470, possivelmente nas Astúrias ou em Portugal. Era de origem judaica e, como muitos de sua época, converteu-se ao cristianismo, tornando-se um “cristão-novo” . Sua família estabeleceu-se em Lisboa, onde construíram uma sólida reputação no comércio marítimo. Loronha destacou-se como representante do banqueiro alemão Jakob Fugger na Península Ibérica, consolidando-se como um dos principais empresários portugueses de seu tempo.
O Comércio do Pau-Brasil
Com o descobrimento do Brasil, a Coroa Portuguesa buscava formas de explorar economicamente as novas terras. Em 1501, Fernão de Loronha e outros comerciantes obtiveram um contrato de exclusividade para a exploração do pau-brasil, madeira de alto valor na Europa devido ao seu corante vermelho . Esse contrato foi renovado até 1511, permitindo que Loronha estabelecesse feitorias ao longo da costa brasileira e organizasse expedições para extrair e transportar a madeira para Portugal.
Em 1506, estima-se que Loronha e seus sócios tenham exportado mais de 20 mil quintais (1.175 toneladas de madeira) de pau-brasil, obtendo lucros entre 400% e 500% . Além da madeira, suas expedições também trouxeram animais exóticos e escravizaram indígenas, refletindo as práticas comerciais e coloniais da época.
A Capitania de Fernando de Noronha
Em reconhecimento aos serviços prestados, o rei D. Manuel I concedeu a Fernão de Loronha, em 1504, a posse hereditária da ilha de São João, posteriormente rebatizada como Fernão de Loronha . Essa concessão marcou a primeira capitania hereditária do Brasil. Apesar de ser o donatário, Loronha nunca pisou na ilha que recebeu seu nome e nunca estabeleceu uma ocupação efetiva na ilha, sendo assim, a ilha permaneceu praticamente desabitada por muitos anos.
A ilha serviu como ponto estratégico para o comércio e, ao longo dos séculos, foi alvo de diversas invasões estrangeiras, incluindo holandeses, franceses e ingleses. Somente em 1700, a ilha foi oficialmente incorporada à Capitania de Pernambuco.
Brasão e Reconhecimento
Fernão de Loronha buscou ter o título de nobreza em Portugal. Em 1506, obteve do rei Henrique VII da Inglaterra uma carta de brasão de armas, que apresentou a D. Manuel I. Embora o rei português não tenha concedido imediatamente o uso das armas, prometeu fazê-lo futuramente. Somente em 1532, sob o reinado de D. João III, Loronha foi oficialmente reconhecido como fidalgo de cota de armas, recebendo um brasão que incorporava elementos das armas inglesas.
Legado e Controvérsias
Fernão de Loronha faleceu por volta de 1540, deixando um legado complexo. Enquanto foi um dos pioneiros na exploração econômica do Brasil, também esteve envolvido em práticas controversas, como o tráfico de escravizados. Seu nome permanece vivo através do arquipélago de Fernando de Noronha, que se tornou um símbolo de beleza natural e conservação ambiental.
É importante destacar que, embora algumas fontes atribuam a Loronha a mudança do nome do país de “Terra de Santa Cruz” para “Brasil”, essa afirmação carece de base histórica sólida e é considerada infundada por muitos historiadores.
Conclusão
Fernão de Loronha foi uma figura central nos primeiros anos da colonização portuguesa no Brasil. Sua atuação como comerciante, armador e donatário refletiu as complexidades e contradições do período das Grandes Navegações. Hoje, ao visitar Fernando de Noronha, é possível refletir sobre essa história rica e multifacetada, reconhecendo tanto os avanços quanto os desafios daquele tempo.
